Aqui apresento minha opinião sintética sobre a titular obra cívica.
Conforme entendi, o autor mostra-se extremamente linear, moderado e equilibrado,
além de terno pela natureza do discurso, o qual faz referência a paraninfo da Faculdade
de Direito de São Paulo em 1920. Isto é, trabalho cívico datado logo após a
primeira guerra mundial, com ênfase no intelecto de seu público: os moços.
Notei que seria organizável este lembrete crítico em nome do
bem-vindo filósofo socrático, Aristóteles, precisamente quanto suas quatro
causas metafísicas: matéria, forma, eficiência e fim.
A primeira está estampada nesta frase: "Vosso coração,
pois, ainda estará incontaminado; e Deus assim o preserve.", p. 29, porque
é a causa material? Simples, porque é sua premissa geral, no que se refere ao
sujeito que entrará na lida diária, na medida que o homem é a matéria-prima da
sociedade e - ainda virgem ou "incontaminado" - aqueles moços
levariam seu coração ao império (apesar de República) da justiça.
Com isso surge, o critério formal, ele pode ser - muitas
vezes - uma fórmula para que (se usada) forneça vantagem prática a quem a
aprendeu, como resolver uma questão de matemática, a tábua exposta é: "A
regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais,
na medida em que se desigualam.", p. 39, eis um conceito geral com que o
mestre auxilia seus moços.
Quanto à eficiência, temos sua mais célebre frase: "Mas
justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta.",
p. 53, em cogência contemporânea exulta a prática e o fazer, qualificando com
atributos épicos ou heroicos, aquele que realmente faz algo e modifica (ou
melhora) sua realidade.
Já no fim, ele exalta sobremaneira o teísmo, verbis: "Não há justiça, onde não
haja Deus.", p. 59, este momento funciona como contra-fundamento, pois o
primeiro é o moço, a segunda base da justiça é Deus, com isso, a largada e a chegada
firmam pontos convergentes de sua opinião. Sendo o Criador, portanto, o
objetivo do operador do Direito, tanto o magistrado quanto o advogado, classes
citadas no livro.
Assim, temos a Oração pautada em encontrar o começo dos Moços,
senão eles próprios e seu correligionário Deus na tarefa da justiça, com
meandros de fórmulas teóricas e práticas para o sucesso da empreitada, o que
torna esse discurso um sucesso da metafísica aristotélica. Não só isso, mas
rico em eloquência, Rui Barbosa desenvolveu não uma obra literária, mas cívica,
pelo futuro da juventude jurídica de sua e nossa época.
Referências
ARISTÓTELES. Metafísica.
Tradução do português, textos adicionais e notas de Edson BINI. São Paulo:
Edipro, 2012.
ARISTÓTELES. Metafísica
- Volume 2. Edição bilíngue. Tradução do português, ensaios introdutórios (1º
volume), comentário (3º volume) e notas por Giovanni Reale. Edições Loyola.
RUI BARBOSA. Oração
aos Moços. São Paulo, SP: Martin Claret, 2004.
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